Quando meu pai resolveu fazer uma casa nova de madeira de araucária eu tinha seis anos de idade.
Um.senhor já conhecido da família, carpinteiro, chamado José Dal Pra , também havia migrado de Nova Bassano para Ciríaco.
Era prático em construir casas de madeira , bem espaçosas foi o que capitaneou a construção.
Meu pai e meus primos filhos do tio José Seganfredo também ajudaram e assim a casa nova ficou pronta em poucos meses.
Antes morávamos em uma casa antiga, menor, sem pintura ali a poucos metros dessa.
A casa nova tinha 4 quartos , uma cozinha enorme e duas salas grandes.
Esta próxima à cozinha era bem espaçosa. A outra sala servia para guardar mantimentos como sacos de farinha de trigo , milho e arroz.
Naquela época, década de 1950 a nossa família produzia todos os alimentos necessários para um ano, os grãos, e vendíamos o excedente para o próprio dono dos moinhos.
A agricultura era rudimentar até os anos 70, quando começou a mecanização da lavoura e também um tímido começo de industrialização, como tecidos, sapatos e outros bens de consumo.
A gente ia no comércio da dona Amélia e do sr.Joaquim Ribeiro Neto levava duas galinhas e trocava por açúcar ou sal.Querozene para os lampeões também.
Tinha também o comércio do Bordin e do Campana, mas ali tinha menos produtos.
Dona Amélia era faceira, sorridente, atendia o armazém.O sr.Joaquim Ribeiro Neto era descendente da família Ribeiro, tinham muitas terras de Campo e Mato. Criavam gado.Ele, especificamente explorava dois pinhais grandes, tinha serraria, ali pertinho de onde é agora Muliterno.
Esses fazendeiros eram influentes na política, mas os Ribeiro e os Vieira eram inimigos políticos. Assim era o Rio Grande do Sul na época.
Ao longo dos anos a casa foi sendo mobiliada e pintada por dentro e por fora.Foram colocadas janelas de vidro produzidas pela família Oro.
Na cozinha a gente ficava no inverno, nos dias de chuva, comendo pinhão, tomando mate e recebendo os primos e tios.
Nos dias de chuva a gente não ia trabalhar na roça, só tirava o leite das vacas e ficava dentro de casa.Era como um dia de feriado.
Na sala de estar ficava o rádio de pilhas onde ouvíamos novelas, música e as notícias, inclusive as políticas.
Acompanhamos pelo rádio a Campanha da Legalidade, capitaneada por Leonel de Moura Brizola e também a primeira ida do Homem à lua.
Leonel Brizola era então governador do Rio Grande do Sul e fazia discursos acalorados.Ao fundo ouvíamos uma multidão gritando " paredon, paredon!
Bem, digamos que ele conseguiu adiar o golpe militar de 1964.
A sala de estar era aconchegante e bonita.Meu pai também reunia os vizinhos e parentes para jogar quatrilho.
A Gema Seganfredo trazia as filhas para meus pais ver.Eles eram muito próximos dessa família, a Gema e o Armelindo Alievi.
O tio Achylles e tia Hermelinda.Elvira e José Seganfredo.Elvira era era uma das irmãs maiores de minha mãe e era sua conselheira.
Tinha também o Carlos Marssaro e a Erminia Didoné.
Vinham fazer filó , mais no tempo da vindima, tomar vinho doce...
Além da mesa de jantar tinha o rádio e o nicho de Nossa Senhora de Fátima, onde todas as noites os pais nos reuniam para rezar o terço.
Na sala de estar meu pai recebia os vizinhos, homens criadores de gado, fazendeiros que vinham beber vinho e comprar uva.Minha mãe também recebia as mulheres do campo que vinham comer e comprar uvas.Ana Maria Ribeiro Dihel e sua afilhada chamada Neneca.Vinham todos montados em belos cavalos.
Na sala de estar passamos bons e maus momentos.
Ali também foram veladas minha avó Catterina e minha mãe.
Ali minha irmã Ely sentava para receber o namorado.
Era especial a sala de estar.
Por muitos anos recebemos nossos primos pois a medida que o tempo foi passando também nós e alguns primos nos transferimos para outras cidades.
Nossa prima Ires com o Taceli e os filhos vinham nos visitar e era uma alegria.
Mas como tudo passa agora a sala de estar existe só na minha memória, mas é inspiradora...
Ah...esqueci de contar...
Disseram minha mãe e meu pai que no dia de Todos os Santos, véspera de finados ouviram alguns passos na sala...era o passo do meu falecido avô Celeste Ferri, identificado pelo jeito de caminhar arrastando os pés...
Outro dia lembrarei mais coisas para contar.
Assim passei uma parte de minha vida.