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domingo, 26 de novembro de 2023

PEQUENA BIOGRAFIA DO PADRE ANTONIO SEGANFREDO- BARBA TONI

 

FAMÍLIA  SEGANFREDO

RELATO DOS PRIMÓRDIOS NA REGIÃO DA COLÔNIA ALFREDO CHAVES

 Ana Maria Seganfreddo

 

Introduzo esse  relato sobre meus antepassados imigrantes italianos na então Colônia Alfredo Chaves, mais precisamente na região da atual Nova Bassano e    arredores relatando informações que obtive ao longo de anos de pesquisa, mas também por ser filha de um bassanense, Cornélio Seganfredo que ali viveu na linha décima até os 25 anos quando se transferiu para Ciríaco onde se casou e se estabeleceu como agricultor .

Uma vez ao  ano ele e mais outros agricultores migrados de Nova Bassano visitavam o lugar de nascimento mais precisamente nas festas das comunidades  São Paulo Apóstolo e São Roque nas festas dos padroeiros onde tinham a oportunidade de encontrar os parentes e conhecidos que lá permaneceram.

 

 

ANTÔNIO SEGANFREDDO, BARBA TONI

 

 

     O  nosso mais ilustre antepassado , Antônio Seganfredo   na primeira estada no Rio Grande do Sul  foi  operário na abertura das estradas  coloniais  e posteriormente no segundo reingresso  missionário scalabriniano.

     Nasceu  Antônio em Mason Vicentino -VI-_Itália no dia 12 de junho de 1851, filho primogênito de Pellegrino Seganfredo e Maria Volpato. Emigrou para o Brasil na década de 1880 com a idade de 31 anos, portanto já adulto.

   O que sabemos dele provém da história oral contada por alguns parentes e poucos  escritos de pesquisadores padres scalabrinianos e principalmente pelas inúmeras cartas que enviou ao fundador da Congregação Scalabriniana Dom Giovanni Battista Scalabrini e posterior à morte deste  ao sucessor superior da Congregação  e também para alguns coirmãos com os quais conviveu no Rio Grande do Sul enquanto trabalhava na missão da então Colônia Alfredo Chaves.

      Antônio Seganfredo era de  origem humilde e  começou a trabalhar para prover seu sustento desde os 14 anos , como ele mesmo relatou.  Sempre como trabalhador braçal  em Mason Vicentino e arredores sendo que em 1880 estando em Bassano del Grappa regressou à cidade natal e preparou-se para emigrar para o Brasil.

O apelido de Barba Toni , segundo informações, foi dado porque ele era uma vocação madura no seminário e significa “TIO TONI”.   

     Nessa época o governo Provincial do Rio Grande do Sul começou a contratar operários para a abertura das estradas coloniais até então praticamente inexistentes. Era necessário melhorar a trafegabilidade nas Colônias para facilitar o deslocamento de pessoas e transporte da produção agrícola já em expansão. Foi neste tempo que Antônio Seganfredo partiu para o Brasil para esse serviço temporário acompanhado de alguns compatriotas e foram empregados na abertura da principal artéria colonial, a estrada Buarque de Macedo que partia do porto fluvial de São João de Montenegro até Alfredo Chaves , atual Veranópolis  passando por Garibaldi e Bento Gonçalves. Conta-se que ele se empregou como cozinheiro do grupo de trabalhadores, mas também exercia outros serviços braçais.  Ele trabalhou mais especificamente entre os atuais municípios de Bento Gonçalves e Veranópolis. Á noite costumava reunir os trabalhadores dispostos a rezar e desta forma deram-lhe o apelido de capelão. Desta  sua prática cotidiana veio-lhe a ideia de, após anos de trabalho, que foram nove , voltar para a Itália e ingressar em alguma Congregação religiosa onde pudesse preparar-se para tornar-se padre e posteriormente voltar ao Rio Grande do Sul e exercer o ministério presbiteral  e assim fez no ano de 1892.

     Chegando na  Itália dirigiu-se para Mason Vicentino e ficou uns dias na casa dos pais. Conversando com a mãe falou-lhes sobre o seu desejo de estudar para tornar-se padre . Conta a Irmã Mafalda Seganfredo, sobrinha neta dele, que a mãe respondeu”_ como queres te tornar padre se nem te vejo rezar?” Ao que ele respondeu”- Va la...va la... um Pai Nosso e uma Ave Maria já são suficientes!”. A mãe falou isto porque naquela época os padres tinham como característica o ascetismo, o que nunca foi o lado forte dele. Levando adiante o seu ideal foi admitido primeiramente no Instituto Mander de Fonte Alto- TV, que era apropriado para vocações maduras. Posteriormente, fechando este dirigiu-se para Piacenza, Emilia Romagna, onde foi admitido no Instituto para Emigrantes em 26 de setembro de 1892 , este fundado por Dom Giovanni Battista Scalabrini com o propósito de formar missionários para acompanhar os imigrantes onde quer que fossem, pois era muito grande o fluxo migratório.

    Ali permaneceu estudando teologia até o ano de 1895, quando foi ordenado sacerdote  em 31 de março por Giovanni Battista Scalabrini.

Agora já sacerdote foi enviado para o Rio Grande do Sul  em 20 de julho de 1896, a bordo do navio a vapor Edilio Re, partindo de Nápoles passando pelo  Porto de Genova juntamente com 2200 imigrantes. Assumiu  no navio o papel de capelão, onde pode acompanhar as vicissitudes deles e nessa viajem de reingresso  presenciou a morte de seis crianças e uma mulher jovem.

Do porto de Santos onde desembarcou cumpriu algumas visitas formais encomendadas por Dom Giovanni Battista Scalabrini e foi a São Paulo visitar o padre Giuseppe Marchetti, no Instituto Cristóvão Colombo, porém não o encontrou, foi posteriormente para Curitiba onde visitou Santa Felicidade, onde encontrou os coirmãos naquela missão e em seguida rumou para o Rio Grande do Sul. Ali foi se apresentar ao bispo da Provincia porém não o encontrou, rumando então por conta própria para a linha IX Ramiro Barcellos , no atual município de Nova Bassano onde já estava desde 1892 seu irmão Giuseppe Seganfredo com a família. Era setembro de 1896.

  Pretendia começar  seu apostolado ali, onde havia uma pequena Igreja perto do Monte Pareo, porém como os agricultores das linhas IX e X estavam disputando o local onde seria erguida uma Igreja matriz começaram a litigar entre si, então ele resolveu sair dali e ir para outro lugar então chamado Capoeiras ou São João Batista do Herval onde tinha uma pequena igrejinha em madeira nas terras do fazendeiro Silvério Antônio de Araújo dedicada a São João Batista. Começou ali a atender os agricultores exercendo todas as obrigações de um missionário.

No final de outubro do mesmo ano chegou naquela Colônia também o padre Pedro Colbacchini, que já havia trabalhado na missão do Paraná, depois retornara à Itália e agora novamente no Brasil, mas na missão do Rio Grande do Sul.

Este contava com a ajuda do padre Antônio Seganfredo, que deveria ser seu coadjutor, porém ambos eram dotados de uma personalidade forte e não combinavam muito como companheiros de trabalho, ficando então o primeiro radicado em Capoeiras de 1896 quando retornou da Itália como padre até aproximadamente 1910 quando adoeceu gravemente e voltou por um período à Itália para se tratar. Depois que retornou da Itália permaneceu uma temporada em Porto Alegre atendendo os imigrantes que continuavam chegando, porém na manhã do dia 23 de dezembro de 1912 teve um mal súbito e morreu na Santa Casa de Misericórdia .

  Padre Antônio Seganfredo por ter sido operário antes de se tornar padre tinha facilidade em se misturar com a população durante os festejos paroquiais,  participava das rodas de canto, pois amava cantar. Cantava enquanto percorria longas distâncias a cavalo no meio dos matos, onde ia até cem quilômetros de distância a visitar famílias por ali dispersas. Também gargalhava, o que parecia um absurdo para um padre da época.

Mas era bem quisto, ensinava remédios caseiros que aprendera com os caboclos da região e na ausência de médicos era bastante procurado quando algum paroquiano adoecia.

    Quanto aos coirmãos foi muito criticado  por vários motivos: um foi o de não ter obedecido uma das regras da Congregação que era de permanecer sempre  dois padres no local da  missão.

  Outra crítica era a de ser nepotista por ter acolhido os pais e a família do irmão Carlo por aproximadamente dois anos na residência paroquial, pois estes ao chegarem da Itália , sem saber falar português foram parar com uma leva de imigrantes em uma fazenda de café em Minas Gerais. Além disso foi até lá busca-los e os conduziu ao Rio Grande do Sul, pela distância de ida e volta ficou fora da missão por quase quatro meses sem a autorização do superior.

  Mas também enfrentou muitas vicissitudes como uma grande seca que ocorreu em 1906, secaram as águas, secou o pasto e favoreceu o aparecimento de grandes nuvens de gafanhotos que devoraram todas as plantações deixando a todos na miséria. Também uma epidemia de tifo matou muita gente obrigando-o a passar muitas horas a cavalo , a pé indo atender os moribundos.

  Mas teve a audácia de construir juntamente com os colonos uma Igreja em alvenaria, começando em 1898 . A mesma foi inaugurada por Dom Giovanni Battista Scalabrini na sua visita pastoral em 1904.

 E por fim, no ano de 1915 os restos mortais dele foram transladados de Porto Alegre e causou uma grande comoção, onde uma multidão foi recebe-los e sepultados foram na Capela Maior daquela Igreja que construíra junto com seus paroquianos, tendo uma inscrição em uma lápide de mármore que dizia” -Ao Reverendo Pe. Antônio Seganfredo, missionário carlista, fundador desta Igreja por 14 anos pastor muito amado, Capoeiras reconhecida: 1851-1912.

Porém com a construção da atual Igreja de Nova Prata os restos mortais dele foram retirados daquela Igreja primeira e dizem que  foram  enviados para Nova Bassano, pois a paróquia já não era gerida pelos scalabrinianos. Neste trajeto ninguém mais soube que fim tiveram, não há um lugar de sepultura para que possamos visitar. Mas, seja lá o que tiver acontecido, o que permanece é o exemplo de sacerdote, um homem que parecia ser rude, mas que tinha um coração compassivo, um verdadeiro apóstolo de Jesus.

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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